sábado, 18 de junho de 2011

quarta-feira, 19 de maio de 2010

CASTELO MENDO NA HISTÓRIA

ALMA ATÉ ALMEIDA

Como se sabe, Napoleão era um grande cabo de guerra. Mas Deus nos livre destes indivíduos, que desgraçam a humanidade! Foram três as invasões que impôs aos portugueses e uma delas assolou a região da Guarda. Quem entrar na Sé poderá ainda ver vestígios do vandalismo dos franceses com o seu slogan 'Liberdade, Igualdade, Fraternidade'. O entusiasmo dos portugueses que tinha subido bem alto com essa doutrina da revolução francesa, arrefeceu quando lhe começaram a queimar as barbas (e do vizinho também!...); pegaram logo em armas contra esses pregadores do Demo. Afinal, a tal liberdade era um meio de escravizar os outros. Aboliram a monarquia mas fundaram um império que se estendia por toda a Europa. O Nepotismo napoleónico a substituir os reis europeus pela família e pelos amigos... Se não fora o 'general inverno' na Rússia talvez levasse a dele avante e a colonização da Europa se tornasse um segundo império romano, desta vez com a capital em Paris e a 'pax francesa' a substituir a 'pax romana'. Há quem diga que o sol napoleónico começou a esmorecer com a invasão de Portugal, à custa de muito sangue e de muitas lágrimas, claro. Lá foi parar a Santa Helena, essa ilha do Atlântico, onde passou a imperador só em imaginação, pois que se tornou prisioneiro dos ingleses e onde morreu, portanto com um império desfeito.
A história diz que entraram por Almeida, então a capital militar da região centro pois que tinha uma fortificação modelar. Só abalroada devido à traição de alguém que pegou fogo ao paiol da pólvora e abriu um brecha na muralha, já que, como dizia Camões, também dos Portugueses traidores houve algumas vezes:

"Ó tu, Sertório, ó nobre Coriolano,
Catilina, e vós outros dos antigos,
Que contra vossas pátrias, com profano
Coração, vos fizestes inimigos,
Se lá no reino escuro de Sumano
Receberdes gravíssimos castigos,
DIZEI-LHE QUE TAMBÉM DOS PORTUGUESES
ALGUNS TRAIDORES HOUVE ALGUMAS VEZES."

Pois bem, contavam os antigos, já que a história lhe chegou por tradição oral, que quando as tropas de Massena que em 1810 passaram por Castelo Mendo, levavam consigo um tenente, sobrinho do general, que foi ferido naquelas paragens. E ficou desesperado. O ordenança amparou-o e ia-o animando pelo caminho dizendo "alma até Almeida meu tenente". A ideia que o soldado queria comunicar ao seu patrão era de que em Almeida seria tratado dos ferimentos porque aí se encontrava um hospital militar.
Daí a origem da expressão, com sentido metafórico, já se vê, de quem quer incutir ânimo em alguém que o não tem e precisa dele:
"ALMA ATÉ ALMEIDA"
JP

quinta-feira, 24 de julho de 2008

UMA ALDEIA DA BEIRA ALTA




Oh Castelo Mendo,
Que com teus afins,
Os horizontes vendo,
Lembra-te de mim!

Oh Castelo Mendo
Cheio de tradições,
As muralhas sendo
Teus nobres brasões!

Oh Castelo Mendo,
Espiando o inimigo,
Mesmo não te vendo,
Estou sempre contigo!

Oh Castelo Mendo,
Lembra-te de mim,
A saudade sendo
O amor, enfm!

...


Vou falar-vos da minha aldeia que como tantas outras se esconde nos contrafortes da Serra da Estrela, calma, muda e silenciosa visto que a emigração dos seus filhos na procura de uma vida melhor a deixaram só. Mas se alguém quiser ir até lá e lhe perguntar acerca do seu passado, ela anima-se e conversa.
Achados arqueológicos demonstram que por ali andaram os humanos desde a Idade da Pedra. Moedas, pontas de lança e outros achados também nos dizem que fenícios, gregos, cartagineses, egípcios foram passando e tentando vender os seus produtos.
Não se sabe quando, mas historicamente, no tempo dos godos havia uma pequena aldeia situada na baixa nas margens do rio Côa que D. Sancho I tratou de trazer para um outeiro bastante inacessível afim de a transformar, tal como uma linha de muitas outras, num torreão de defesa contra os castelhanos que, como se sabe andavam sempre em contendas connosco. Deu-lhe foral e, mais tarde, D. Diniz mandou construir o castelo e muralhou-a. Em 1512, D. Manuel, ao passar por Vila do Touro, deu-lhe foral novo.
Possuindo as ruínas de um tribunal e cadeia e com um pelourinho bem conservado e que deve ser um dos mais altos do país, de pedra única de granito, diz-nos que foi bafejada pelo progresso pois era uma vila, sede de concelho que Mouzinho da Silveira, segundo legislação elaborada durante o cerco do Porto, aboliu tal como um grande número de outras por todo o país.
Tinha três freguesias, portanto três igrejas: Sta Maria, S. Pedro e S. Vicente e três padres que, além do pé de altar eram pagos pelo governo.
Uma curiosidade interessante é que ali se realizou a primeira feira de que há notícia em Portugal.
Outra curiosidade: Como todos os anos desaparecessem pessoas, o povo enviava sete rapazes a Alfaiates, a uma festa que a´anualmente se realizava, nus do tronco para cima, em peregrinação a Nossa Senhora de Monserrate afim de pedirem para que tivesse piedade daquele povo.
Outra história que se conta, aliás, atestada pelo túmulo de um tenente-coronel que se encontra no castelo. Levando os seus homens em direcção a Espanha, este militar prometeu-lhes que lhes pagaria em Castelo Mendo. Como não o fez, um dos militares deu-lhe um tiro quando apareceu a uma janela e por lá ficou enterrado (1). O cofre onde guardava o dinheiro enterrado foi mais tarde descoberto por acaso por um aldeão que ficou rico.
E pronto. Se é amante de história dê por lá uma volta. Há uns tempos para cá que as excursões têm percurso obrigatório por Castelo Mendo.

jp

(1)

AQUI JAZ MIGUEL AUGUSTO DE SOUSA MENDONÇA CORTE REAL, FIDALGO DA CASA REAL E COMENDADOR DAS ORDENS DE:
SÃO BENTO DE AVIS E DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO, CONDECORADO COM A MEDALHA DE TORRE E ESPADA, DE VALOR, LEALDADE E MÉRITO, E COM A CRUZ DE S. FERNANDO, DADA POR SUA MAJESTADE CATÓLICA, TENENTE-CORONEL, COMANDANTE DE INFANTARIA Nº. 6, FILHO DO TENENTE GENERAL E CONSELHEIRO DE GUERRA, JOÃO DE SOUSA MENDONÇA CORTE REAL E DE D. MARGARIDA DE SOUSA MENDONÇA CÔRTE-REAL. NASCEU EM 23 DE AGOSTO DE 1803, FOI BARBARAMENTE ASSASSINADO PELOS SEUS PRÓPRIOS SOLDADOS EM 12 DE SETEMBRO DE 1840

UMA FEIRA MEDIEVAL


Oh Castelo Mendo,
Que com teus afins,
Os horizontes vendo,
Lembra-te de mim!

Oh Castelo Mendo
Cheio de tradições,
As muralhas sendo
Teus nobres brasões!

Oh Castelo Mendo,
Espiando o inimigo,
Mesmo não te vendo,
Estou sempre contigo!

Oh Castelo Mendo,
Lembra-te de mim,
A saudade sendo
O amor, enfm!

...


A minha aldeia que, como tantas outras, se esconde nos contrafortes da Serra da Estrela, no cimo das escarpas de Riba-Côa, pois como se sabe D. Sancho I transferiu a aldeia que estava na baixa, fértil e abrigada dos ventos, para um alto sobranceiro a um vasto horizonte e de difícil acesso afim de impedir as arremetidas do vizinho espanhol.
Calma, muda e silenciosa visto que a emigração dos seus filhos na procura de uma vida melhor a deixaram só.
Mas se alguém quiser ir até lá e lhe perguntar acerca do seu passado, ela anima-se e conversa.
Foi isso que aconteceu em Abril. Tal como nos filmes de animação, a Câmara Municipal recuou oito séculos para nos patentear em Castelo Mendo uma feira medieval.
Lá estavam os emblemas dessa época tal como o falcão que os nobres utilizavam na caça e as tendinhas, pequeninas ou grandes, pitorescas, estas últimas uma espécie de pequeno alpendre de lona onde os vendedores e vendedeiras, trajando ao jeito medieval, expunham os seus produtos.
Cheia de graça e singeleza, essa feira, a primeira de que há notícia em Portugal prima pelo seu pitoresco e é bem apetecível para o turista sempre almejando por coisas diferentes da sua rotina.
E, curiosamente, fazia-se negócio. É mais uma feira, de facto, com que as pessoas podem contar para se reabastecer no seu dia a dia.
Depois, a bandazinha de música do tempo, espalhava uma aragem alegre com as suas flautas, cornamusas, alaúdes, harpas ou tambores através da aldeia com suas ruas medievais bem tortuosas e com a sua rua direita, emblema das vilas do tempo, porque Castelo Mendo era vila com tribunal pelourinho e tudo que, como se sabe o Mousinho da Silveira, aquele cuja figura podíamos ver nas antigas notas de 500 escudos, enquanto estava sitiado no Porto legislava e, perante a miséria em que caiu o país após a perda do Brasil, decidiu abolir grande número de concelhos entre os quais o de Castelo Mendo.
Mas há um dia no ano em que regressa aos pergaminhos de antanho…
A primeira menção duma feira portuguesa vem registada no Foral de Castelo Mendo de 1229, que se realizava três vezes no ano, durante oito dias de cada vez. Todos os que a ela concorressem, tanto nacionais como estrangeiros, teriam segurança contra qualquer responsabilidade civil ou criminal que pesasse sobre eles. Entre os privilégios que mais favoreceram o desenvolvimento das feiras portuguesas há que mencionar o que isentava os feirantes do pagamento de direitos fiscais, nomeadamente portagens, a que se dava o nome de feiras francas.
Enfim, fui lá e achei que valeu a pena até porque quase que nem saí de minha casa que fica na rua direita e, através de uma janela ainda de feição medieval conseguia uma visão quase de conjunto.
Um dia bem passado!

JP

DE CASTELO MENDO À GUARDA

Nem tudo são rosas em Portugal mas nós não somos do partido da oposição para dizer apenas mal.
A propósito, recordo – me de, nos anos cinquenta quando, na Terra Fria me dirigia à cidade para frequentar o liceu pela primeira vez, pela primeira vez também sofri a valer com o flagelo do frio. Os autocarros já se consideravam quase um luxo para a época, passageiros por dentro, volumes em cima do tejadilho, demorando cerca de hora e meia a calcorrear trinta quilómetros de estrada asfaltada porque o condutor e o cobrador iam fazendo uns intervalinhos nas estações afim de “matar o bicho” com os amigos que viajavam e com os outros que iam fazendo e que passavam a “permanentes”, nas taberninhas, que isso sempre houve por todo o lado. Até lhes chamavam capelinhas pois que rivalizavam em número com estas que, como se sabe, da superabundância delas na Idade Média herdámos pelo menos as ruínas, que os governos têm vindo a restaurar por causa do turismo. O turista gosta do passado, de ouvir “as pedras falar” porque as horas são de lazer, é claro, comendo a seguir um bom repasto e regando bem as ruínas.
O que é certo é que enquanto eles iam aquecer à taberna (dizem que o álcool aquece o estômago, que por sua vez propaga o calor ao resto do corpo), os passageiros que ficavam, que eram a maioria, enregelavam.
Quando cheguei à cidade, o frio era tanto que já lançava mão da religião pois que tomando – o como “purificação” dos meus pecados, a questão psicológica mandava – me um bálsamo que eu considerava dádiva de Deus.
Quando cheguei à casa que me aguardava, a hospedeira foi fazer uma grande braseira (era o aquecimento consagrado) mas, devido à forte intensidade do frio as dores eram ainda maiores, em contacto repentino com o calor.
É claro que no Verão, quando se viajava nos mesmos autocarros era o que se chama “suar por todos os poros.”

Pois bem, uns anos após a nossa entrada na EU, muitas vezes em que viajava de autocarro filosofava para os meus botões fazendo o confronto entre o frio de antanho e o conforto do ar condicionado da actualidade, a que já me vou habituando pois inicialmente considerava – o um verdadeiro luxo.
Vamos lá também fazer uns louvorzitos, não é só dizer mal! Embora os ordenados sejam baixos há sempre a qualidade de vida que é para todos. E viva o velho!

PASSAGEM DE ANO ATRIBULADA


Foi na noite de 31 de Dezembro, numa aldeia sossegada da Beira Alta, a minha onde D. Sancho I, cioso de manter a independência do leonês mandou construir um castelo e rodear a povoação de muralhas no mesmo estilo de toda a linha arraiana e que fez florescer dando-lhe foral pois que os peões passaram a ter privilégios de cavaleiros e estes de infanções ou ricos-homens.
Adiante. Mais tarde descobriu-se a pólvora, vieram as armas de artilharia e Castelo Mendo também teve as suas.
Dentro da relíquia que é a povoação ficou uma outra relíquia, uma grande peça de artilharia, daquelas de carregar pela boca, que disparavam acendendo-lhes a mecha num pequeno orifício atrás.
Passaram-se anos em que a dita, vetusta e obsoleta arma jazia pacificamente no cimo do povoado no sítio onde outrora fora o castelo apenas assinalado por uma porta, uma ou duas torres derribadas por cima da muralha e uma cisterna.
Numa passagem de ano, os rapazes do povoado, bem bebidos, sedentos de acção e, por falta de diversões no povoado, deitaram, gulosos de bêbedos e de inconsciência, o olho ao canhão.
Um mais afoito alvitrou:
- Eh rapazes, vamos carregar o canhão?
É claro que todos responderam em uníssono “vamos a isso!”. E mãos à obra. Os leitores já decerto viram, porventura no cinema, como se carrega um barroco numa pedreira para se lhe extrair a pedra. Pois bem, depois de meterem a pólvora lá bem no fundo, eles fizeram exactamente assim. Foram enchendo de pedregulhos, metendo terra e atacando praticamente até ao cimo, sempre com aquela carga de vinho e desconhecimento. Chegou por fim o momento mais alegre e expectante: chegar a mecha ao canhão. “Quem tem um fósforo, quem não tem?” e ‘zás’ fogo à peça!
Tal como as pedras saltam para cima e para os lados no barrocal, assim a honrada peça de artilharia que porventura matara centenas de castelhanos, só não matou os autores do disparo porque não calhou. Certo está o ditado que ao menino e ao borracho…

J.P

ALBUM

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