quinta-feira, 24 de julho de 2008

UMA ALDEIA DA BEIRA ALTA




Oh Castelo Mendo,
Que com teus afins,
Os horizontes vendo,
Lembra-te de mim!

Oh Castelo Mendo
Cheio de tradições,
As muralhas sendo
Teus nobres brasões!

Oh Castelo Mendo,
Espiando o inimigo,
Mesmo não te vendo,
Estou sempre contigo!

Oh Castelo Mendo,
Lembra-te de mim,
A saudade sendo
O amor, enfm!

...


Vou falar-vos da minha aldeia que como tantas outras se esconde nos contrafortes da Serra da Estrela, calma, muda e silenciosa visto que a emigração dos seus filhos na procura de uma vida melhor a deixaram só. Mas se alguém quiser ir até lá e lhe perguntar acerca do seu passado, ela anima-se e conversa.
Achados arqueológicos demonstram que por ali andaram os humanos desde a Idade da Pedra. Moedas, pontas de lança e outros achados também nos dizem que fenícios, gregos, cartagineses, egípcios foram passando e tentando vender os seus produtos.
Não se sabe quando, mas historicamente, no tempo dos godos havia uma pequena aldeia situada na baixa nas margens do rio Côa que D. Sancho I tratou de trazer para um outeiro bastante inacessível afim de a transformar, tal como uma linha de muitas outras, num torreão de defesa contra os castelhanos que, como se sabe andavam sempre em contendas connosco. Deu-lhe foral e, mais tarde, D. Diniz mandou construir o castelo e muralhou-a. Em 1512, D. Manuel, ao passar por Vila do Touro, deu-lhe foral novo.
Possuindo as ruínas de um tribunal e cadeia e com um pelourinho bem conservado e que deve ser um dos mais altos do país, de pedra única de granito, diz-nos que foi bafejada pelo progresso pois era uma vila, sede de concelho que Mouzinho da Silveira, segundo legislação elaborada durante o cerco do Porto, aboliu tal como um grande número de outras por todo o país.
Tinha três freguesias, portanto três igrejas: Sta Maria, S. Pedro e S. Vicente e três padres que, além do pé de altar eram pagos pelo governo.
Uma curiosidade interessante é que ali se realizou a primeira feira de que há notícia em Portugal.
Outra curiosidade: Como todos os anos desaparecessem pessoas, o povo enviava sete rapazes a Alfaiates, a uma festa que a´anualmente se realizava, nus do tronco para cima, em peregrinação a Nossa Senhora de Monserrate afim de pedirem para que tivesse piedade daquele povo.
Outra história que se conta, aliás, atestada pelo túmulo de um tenente-coronel que se encontra no castelo. Levando os seus homens em direcção a Espanha, este militar prometeu-lhes que lhes pagaria em Castelo Mendo. Como não o fez, um dos militares deu-lhe um tiro quando apareceu a uma janela e por lá ficou enterrado (1). O cofre onde guardava o dinheiro enterrado foi mais tarde descoberto por acaso por um aldeão que ficou rico.
E pronto. Se é amante de história dê por lá uma volta. Há uns tempos para cá que as excursões têm percurso obrigatório por Castelo Mendo.

jp

(1)

AQUI JAZ MIGUEL AUGUSTO DE SOUSA MENDONÇA CORTE REAL, FIDALGO DA CASA REAL E COMENDADOR DAS ORDENS DE:
SÃO BENTO DE AVIS E DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO, CONDECORADO COM A MEDALHA DE TORRE E ESPADA, DE VALOR, LEALDADE E MÉRITO, E COM A CRUZ DE S. FERNANDO, DADA POR SUA MAJESTADE CATÓLICA, TENENTE-CORONEL, COMANDANTE DE INFANTARIA Nº. 6, FILHO DO TENENTE GENERAL E CONSELHEIRO DE GUERRA, JOÃO DE SOUSA MENDONÇA CORTE REAL E DE D. MARGARIDA DE SOUSA MENDONÇA CÔRTE-REAL. NASCEU EM 23 DE AGOSTO DE 1803, FOI BARBARAMENTE ASSASSINADO PELOS SEUS PRÓPRIOS SOLDADOS EM 12 DE SETEMBRO DE 1840

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