quinta-feira, 24 de julho de 2008

DE CASTELO MENDO À GUARDA

Nem tudo são rosas em Portugal mas nós não somos do partido da oposição para dizer apenas mal.
A propósito, recordo – me de, nos anos cinquenta quando, na Terra Fria me dirigia à cidade para frequentar o liceu pela primeira vez, pela primeira vez também sofri a valer com o flagelo do frio. Os autocarros já se consideravam quase um luxo para a época, passageiros por dentro, volumes em cima do tejadilho, demorando cerca de hora e meia a calcorrear trinta quilómetros de estrada asfaltada porque o condutor e o cobrador iam fazendo uns intervalinhos nas estações afim de “matar o bicho” com os amigos que viajavam e com os outros que iam fazendo e que passavam a “permanentes”, nas taberninhas, que isso sempre houve por todo o lado. Até lhes chamavam capelinhas pois que rivalizavam em número com estas que, como se sabe, da superabundância delas na Idade Média herdámos pelo menos as ruínas, que os governos têm vindo a restaurar por causa do turismo. O turista gosta do passado, de ouvir “as pedras falar” porque as horas são de lazer, é claro, comendo a seguir um bom repasto e regando bem as ruínas.
O que é certo é que enquanto eles iam aquecer à taberna (dizem que o álcool aquece o estômago, que por sua vez propaga o calor ao resto do corpo), os passageiros que ficavam, que eram a maioria, enregelavam.
Quando cheguei à cidade, o frio era tanto que já lançava mão da religião pois que tomando – o como “purificação” dos meus pecados, a questão psicológica mandava – me um bálsamo que eu considerava dádiva de Deus.
Quando cheguei à casa que me aguardava, a hospedeira foi fazer uma grande braseira (era o aquecimento consagrado) mas, devido à forte intensidade do frio as dores eram ainda maiores, em contacto repentino com o calor.
É claro que no Verão, quando se viajava nos mesmos autocarros era o que se chama “suar por todos os poros.”

Pois bem, uns anos após a nossa entrada na EU, muitas vezes em que viajava de autocarro filosofava para os meus botões fazendo o confronto entre o frio de antanho e o conforto do ar condicionado da actualidade, a que já me vou habituando pois inicialmente considerava – o um verdadeiro luxo.
Vamos lá também fazer uns louvorzitos, não é só dizer mal! Embora os ordenados sejam baixos há sempre a qualidade de vida que é para todos. E viva o velho!

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