quinta-feira, 24 de julho de 2008

UMA FEIRA MEDIEVAL


Oh Castelo Mendo,
Que com teus afins,
Os horizontes vendo,
Lembra-te de mim!

Oh Castelo Mendo
Cheio de tradições,
As muralhas sendo
Teus nobres brasões!

Oh Castelo Mendo,
Espiando o inimigo,
Mesmo não te vendo,
Estou sempre contigo!

Oh Castelo Mendo,
Lembra-te de mim,
A saudade sendo
O amor, enfm!

...


A minha aldeia que, como tantas outras, se esconde nos contrafortes da Serra da Estrela, no cimo das escarpas de Riba-Côa, pois como se sabe D. Sancho I transferiu a aldeia que estava na baixa, fértil e abrigada dos ventos, para um alto sobranceiro a um vasto horizonte e de difícil acesso afim de impedir as arremetidas do vizinho espanhol.
Calma, muda e silenciosa visto que a emigração dos seus filhos na procura de uma vida melhor a deixaram só.
Mas se alguém quiser ir até lá e lhe perguntar acerca do seu passado, ela anima-se e conversa.
Foi isso que aconteceu em Abril. Tal como nos filmes de animação, a Câmara Municipal recuou oito séculos para nos patentear em Castelo Mendo uma feira medieval.
Lá estavam os emblemas dessa época tal como o falcão que os nobres utilizavam na caça e as tendinhas, pequeninas ou grandes, pitorescas, estas últimas uma espécie de pequeno alpendre de lona onde os vendedores e vendedeiras, trajando ao jeito medieval, expunham os seus produtos.
Cheia de graça e singeleza, essa feira, a primeira de que há notícia em Portugal prima pelo seu pitoresco e é bem apetecível para o turista sempre almejando por coisas diferentes da sua rotina.
E, curiosamente, fazia-se negócio. É mais uma feira, de facto, com que as pessoas podem contar para se reabastecer no seu dia a dia.
Depois, a bandazinha de música do tempo, espalhava uma aragem alegre com as suas flautas, cornamusas, alaúdes, harpas ou tambores através da aldeia com suas ruas medievais bem tortuosas e com a sua rua direita, emblema das vilas do tempo, porque Castelo Mendo era vila com tribunal pelourinho e tudo que, como se sabe o Mousinho da Silveira, aquele cuja figura podíamos ver nas antigas notas de 500 escudos, enquanto estava sitiado no Porto legislava e, perante a miséria em que caiu o país após a perda do Brasil, decidiu abolir grande número de concelhos entre os quais o de Castelo Mendo.
Mas há um dia no ano em que regressa aos pergaminhos de antanho…
A primeira menção duma feira portuguesa vem registada no Foral de Castelo Mendo de 1229, que se realizava três vezes no ano, durante oito dias de cada vez. Todos os que a ela concorressem, tanto nacionais como estrangeiros, teriam segurança contra qualquer responsabilidade civil ou criminal que pesasse sobre eles. Entre os privilégios que mais favoreceram o desenvolvimento das feiras portuguesas há que mencionar o que isentava os feirantes do pagamento de direitos fiscais, nomeadamente portagens, a que se dava o nome de feiras francas.
Enfim, fui lá e achei que valeu a pena até porque quase que nem saí de minha casa que fica na rua direita e, através de uma janela ainda de feição medieval conseguia uma visão quase de conjunto.
Um dia bem passado!

JP

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